quarta-feira, 29 de setembro de 2010

BENEFÍCIOS DO TREINAMENTO NA ALTITUDE EM ESPORTES DE ENDURANCE

Hoje em dia os benefícios do treinamento da altitude são bastante controversos em relação a possíveis benefícios no desempenho de atletas de endurance (natação, ciclismo e corrida). A grande divergência da literatura deve-se ao fato de diferentes metodologias de treino serem empregadas. Outro fatores de confusão incluem o tempo de permanência em altas altitudes, as adaptações fisiológicas ocorridas e a própria altitude (SAUNDERS et al. 2009).

Os efeitos da altitude no desempenho começaram a ser estudados nos jogos olímpicos do México em 1968 (os jogos foram realizados a 2300mts de altitude) e, desde então, diversos trabalhos na literatura foram publicados (SORIA et al. 1998; BEALL et al. 2002). Um dos métodos bastante empregados para melhora do desempenho dos esportes de endurance tem sido o “more baixo, treine no alto” que preconiza o treinamento em altitudes acima de 1800-2000 mts e a vida diária em altitudes bem próximas ao nível do mar.
Esses métodos de treino são responsáveis, segundo a literatura por pequenas melhoras no desempenho (na ordem de 1.8% a 2.5%) sendo, desta forma, bastante questionáveis. Apesar disso devemos considerar que, no alto nível, mesmo pequenas melhoras podem fazer a diferença entre o primeiro e o último lugar (SAUNDERS et al. 2009).
Dentre as principais adaptações ocasionadas pelo treinamento da altitude podemos citar (SAUNDERS et al. 2009):

- Melhora da produção de eritropoitina –EPO (proteína produzida nos rins que estimula a produção de glóbulos vermelhos na medula óssea o que desencadeia aumentos do VO2Máx) ;
- Melhora do consumo de oxigênio (o que pode acarretar em melhora no desempenho na ordem de 20% a 60% após 2-3 semanas de exposição a altas atitudes);
- Aumento na atividade mitocondrial na células musculares (após 2- 3 semanas de exposição a altas atitudes);
- Melhora da tolerância ao lactato.

Ainda segundo a literatura, apenas altitudes acima de 1800mts são suficientes para melhora do desempenho. Além disso, períodos de treinamento em altas atitudes menores do que 2 semanas, não mostraram diferenças significativas nas variáveis acima demonstradas e sempre que treinamos em altos níveis acima do mar, devemos diminuir a carga de treinamento dando ênfase a cargas estabilizadoras ao invés de cargas ordinárias ou de choque pelo menos, nas 2-4 primeiras semanas de treinamento (BARTSCH & SALTIN, 2008). Abaixo, encontramos outras dicas úteis para nos guiar em relação ao treinamento em altitude (SAUDERS et al. 2009).

ALTITUDE (mts) >1800 / 4 - 8 semanas:
EFEITOS POSITIVOS: Mínimas alterações na intensidade do treino são necessárias.
EFEITOS NEGATIVO: Muito baixo para produzir efeitos na desempenho.

ALTITUDE (mts) 1800-2000 / 3 - 6 semanas:
EFEITOS POSITIVOS: Altura ideal para produzir aumentos dos glóbulos vermelhos e obter melhoras em relação a capacidade oxidativa dos músculos quando o atleta retorna ao nível do mar.
EFEITOS NEGATIVO: Intensidade do treinamento comprometida (entre 3% a 6%) em provas de meio-fundo e fundo.

ALTITUDE (mts) 2200-3000 / 2 - 4 semanas:
EFEITOS POSITIVOS: Melhoras na ordem de 14% a 21% em relação a intensidade de treino.
EFEITOS NEGATIVO: Aumento da diminuição na velocidade em provas de 1500mts a 10km na ordem de 6% a 12%.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Beall C.M., Decker M.J., Brittenham G.M., Kushner I., GebremedhinA., and Strohl K.P. (2002). An Ethiopian pattern ofhuman adaptation to high-altitude hypoxia. Proc.

Natl. Acad. Sci. USA. 99:17215–17218.
Saunders, Philo U., David B. Pyne, and Christopher Gore. Endurance training at altitude. High Alt. Med. Biol. 10:135–148, 2009.

Soria R., et al. (1998). Hemoglobin concentration of highaltitude Tibetans and Bolivian Aymara. Am. J. Phys. Anthropol.106:385–400.

Fonte: www.alexandrelevangelista.com.br
Escrito por: Alexandre Evangelista.
Publicado no dia 24/03/2010 com o(s) assunto(s) Fisiologia do Exercício, Treinamento de corrida.

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